Ir ao cinema é uma das atividades que mais aprecio na vida, especialmente porque passei grande parte da minha vida em uma cidade pequena, onde não havia salas de exibição. Em casa não tínhamos videocassete, então assistia a filmes em VHS somente quando algum amigo ou vizinho convidava. Além disso, era necessário aguardar por três ou até mais anos para que um filme de sucesso daquela época fosse exibido na televisão. Por essas razões, todas as vezes que entro em uma sala de projeção, é como se fosse a primeira vez.
Desde que mudei pra Teresina, passei a frequentar assiduamente os cinemas da cidade. Tornou-se uma tradição aos sábados chegar ao shopping mais cedo e assistir a um filme antes da aula de inglês. Com o passar do tempo, desenvolvi alguns hábitos peculiares, como não entrar em uma sessão que já começou, pois não gosto de perder os trailers. E sentar quase sempre na mesma poltrona. Uma que está situada no meio da terceira fileira de cima para baixo, logo abaixo da cabine de projeção. Era uma delícia ouvir o barulho da película passando pelo projetor. Hoje, com a projeção digital, isso não é mais possível.
Posso afirmar que o leitor que sou hoje foi influenciado pelo cinema. Eu era assinante da Revista Set e o suplemento de cultura dos jornais era a primeira coisa que eu lia entregavam o jornal. Como não havia internet nessa época. Essas eram minha únicas fontes de informação.
Ao revisitar a trilogia “O Senhor dos Anéis” após vários anos, uma enxurrada de lembranças veio à mente. Lembro-me bem das primeiras notícias e fotos divulgadas. Sabia-se que o diretor neozelandês, Peter Jackson, estava liderando um projeto grandioso e arriscado, no qual os três filmes eram produzidos simultaneamente.
Em 2021, a Editora Martins Fontes relançou a trilogia de J. R. R. Tolkien em duas versões: uma com os três volumes vendidos separadamente e outra com mais de 1200 páginas contendo os três volumes encadernados em um único tomo. Aquele livro enorme com um mago na capa e que custava uma pequena fortuna me fascinava.
Foram vários meses de olho na vitrine da livraria até ele se tornar o primeiro livro da minha biblioteca. Eu, que até então não tinha o hábito de ler livros com tanta frequência, tornei-me um leitor assíduo. A curiosidade me levava a ler os livros antes de serem adaptados para o cinema. Quando o primeiro filme da trilogia estreou, eu já havia lido todos.
Lembro-me bem da sessão de “A Sociedade do Anel” no saudoso Cine Riverside. O filme chegou com bastante atraso, quase um mês depois do restante do país. Os cinemas do Teresina Shopping estavam fechados para reforma. Enquanto isso, o Cine Rex já agonizava e continuava com sua programação de filmes adultos. A fita só chegaria por lá depois de passar pelo circuito dos shoppings. Uma baita injustiça.
Em frente à bilheteria já havia uma fila imensa para a compra de ingressos. Consegui entrar com muita dificuldade e o único lugar vazio que restava era uma poltrona lateral bem embaixo da tela. A adaptação superou as expectativas e me fez lembrar que teria que esperar quase um ano pra ver “As Duas Torres”. Quanto a ele não tenho tantas lembranças. Lembro apenas que desta vez o filme chegou na data correta e os cinemas do Teresina, recém-reformados, ainda cheiravam a novo.
Já o terceiro capítulo, “O Retorno do Rei” foi uma sessão memorável. Estava de férias em Fortaleza com amigos e compramos os ingressos antecipadamente. Em pleno natal, assistimos à estreia no Cine São Luiz, um dos primeiros cinemas da capital cearense e um dos últimos cinemas do Centro que ainda resistia.
Lembro-me bem da fila gigantesca que se formava na Praça do Ferreira. E eu, que nunca havia ido a um cinema de rua, fiquei encantado com a beleza e o tamanho da sala. Chamaram minha atenção o piso e as escadas de mármore de Carrara, e os três lustres de cristal importados da Tchecoslováquia. Mesmo precisando de restauração, o local ainda mantinha o requinte dos tempos áureos.
E, em meio à sessão lotada, começou a baderna. Durante a exibição do filme, rolos de papel higiênico eram arremessados por alguém da plateia superior e atravessavam a sala como serpentinas no carnaval. Não satisfeito, o sujeito ainda lançou vários preservativos inflados na plateia inferior, que antes de estourarem, voavam como balões sobre a cabeça das pessoas. Mesmo com toda a bagunça e algazarra foi uma sessão memorável. As pessoas vibravam e aplaudiam, principalmente durante as cenas de batalha. Isso dava ainda mais emoção ao filme.
Situações como essas reforçam que o modo de ver filmes pode até mudar. E que streaming, DVD ou Blu-ray podem ser práticos, mas jamais substituirão a experiência de assistir a um filme em uma sala de cinema.
Concordo plenamente com você, mas somos de outra geração. Acho que a nova geração imediatista deseja assistir ao filme o quanto antes, de preferência sem sair de casa, nem que seja num “piratex”. Penso que no cinema é sempre melhor, mas houve um tempo que o rádio era o que havia de melhor…estamos nos tornando os saudosistas. 🥹